sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Viva Registro!!! 74 anos! Pronunciamento na sessão solene

Boa noite!
74 anos de Registro. Viva!
Ter a missão de falar representando os meus colegas vereadores, não é fácil... Porque é claro, pensamos de forma diferente e em vários casos de forma antagônica, efetivamente. Isto é muito natural porque representamos a população na sua diversidade de pensamento e opiniões, classe social ou segmentos. 
É a democracia! E mais do que nunca viva a democracia e que seja duradoura.
Fui sorteada para fazer este cumprimento e como tal vou tentar fazê-lo da forma mais republicana possível, quero dizer buscando aspectos que penso que sejam convergentes na forma de pensar o mundo e o nosso município. Portanto, não falarei aqui em nome próprio. 
Amanhã é aniversário de Registro. Viva! 
Viva a vida das pessoas que aqui moram. Viva a memória dos que foram. Viva a nossa história. 
Nosso município faz 74 anos!
Neste espaço de tempo fomos chegando... uns há mais tempo como os guaranis que aqui viviam, outros há menos tempo como o dom Manoel, bispo Diocesano que está em Registro há apenas 4 meses.
Depois dos índios chegaram os portugueses e em seguida os africanos que, num capítulo tenebroso de nossa história, vieram como escravos, homens e mulheres escravizadas. 
Apesar deste fato certamente nos envergonhar muito, não se pode, em hipótese alguma, negar este capitulo da nossa história porque não somos aquele que quer negar a escravidão no Brasil ou que trata os negros como animais os medindo por arroba. 
Mas é fundamental destacar a imensa contribuição dos afro-descentes na cultura e desenvolvimento sócio econômico do nosso município. 
Depois vieram os japoneses, com a conhecida importância e sempre exaltada contribuição da imigração japonesa para o nosso desenvolvimento econômico e nossa cultura. 
E assim nosso povo foi se formando...os Caiçaras, os estrangeiros...
Falo isto pra destacar um trecho do nosso hino e para destacar aspectos do nosso processo civilizatório hoje tão ameaçado.
No hino de Registro uma estrofe diz assim:
“Os filhos de outras plagas
Aqui vivem como irmãos,
Sempre unidos, de mãos dadas
Cultivam e florescem chão.”
Portanto fala de acolhimento, de união, fraternidade e solidariedade. Temas que tratam de princípios que merecem o destaque já que estão profundamente ameaçados no mundo e na nossa sociedade nos últimos meses, em particular.
Registro sempre acolheu os de fora (outras nações) e acolheu a nós de outras regiões do Brasil.
Os senhores e senhoras, inclusive, que hoje recebem o título de cidadão e cidadã registrense, viemos de outras plagas, eu há 30 anos, e cada um de vocês certamente fomos acolhidos e, por isto gratos ao povo de Registro.
Acolhimento é o contrário de xenofobia. Uma das pragas do presente. Revela uma forma de pensar que está por trás de guerras, ódio, fome... e por trás de posturas autoritárias que brotam em várias partes do mundo. 
Portanto, que possamos ir na contra mão da xenofobia e do ódio e continuar acolhendo e vivendo como irmãos nesta plaga, Registro.
Imagem relacionada

“Sempre unidos e de mãos dadas”. 

Certamente é uma figura de linguagem, um poema por que... a sociedade é, por si só, conflituosa. Na luta de classes, na disputa de interesses econômicos, de hegemonia política ou na disputa pessoal, o que seja... mas sem abrir mão da democracia e de um pacto civilizatório que permeia (ou permeava?) a sociedade brasileira e a nossa comunidade de Registro.

Pacto civilizatório que vem sendo construído a partir da revolução francesa e americana onde um “mínimo social” da convivência humana nos coloca num padrão de civilidade que nos leva a defender princípios da condição humana como a defesa da vida, a respeitar a dor de uma pessoa em situação de perder um parente, a defesa da paz, que nos leva se nos sensibilizarmos com a fome do outro, que nos leva a defender liberdade expressão e de religião. Que nos leva a defesa da verdade em contraposição a mentira de boca em boca ou de postagem em postagem em rede sociais. 

Que nos leva à defender os interesses da nação, entendida como território comum, de todos, a "casa de todos" e que não pode ser leiloada ao bel prazer de um governante.

Um acordo social que nos diferencia da barbárie.

Muitos destes valores estão sendo atacados a ponto de ameaçar este pacto civilizatório.

O ódio, a intolerância as diferenças, a defesa da morte do outro como saída para sua melhor vida e a dos seus
Morte ao bandido, morte ao negro, morte à mulher, ao homossexual. 
A ameaça ao direito das mulheres terem seus filhos como vimos nos jornais de hoje a defesa da tese da esterilização das mulheres pobres !!!... 
A discriminação étnica, racial e de opção sexual são princípios que vem, infelizmente, sendo propagados e defendidos com naturalidade e até mesmo por lideranças que deveriam defender a vida na sua plenitude mágica concedida por Deus.

Por outro lado, Registro faz 74 anos com muita coisa para comemorar... 

Efetivamente hoje nos constituímos num polo de educação técnica e tecnológica, com a UNESP, ETEC, INSTITUTO FEDERAL, SENAC, SESI E SENAI), por exemplo. Com infra estrutura como a duplicação da BR 116 que fortalece nossa vocação para atividades econômicas ligadas à logística, além das atividades de agricultura, serviços/comércio e do turismo. 

Mas, além de comemorarmos os avanços, temos que ter a grandeza de encararmos os desafios, como por exemplo o grande desafio do crescimento sócio-econômico com geração de emprego e renda. De forma sustentável. O desafio de ampliar e qualificar as políticas públicas de saúde, educação, moradia, de assistência social, tornado a vida de todos todas melhor. Mas há de se respeitar o princípio constitucional da equidade, o que significa  - e, governar para aqueles que mais precisam de governo, mais precisam de políticas públicas. 

Mas se neste pronunciamento, durante esta sessão de comemoração ao aniversário de Registro, destaco aspectos mais gerais do país é para que possamos, todos e todas, nos engajarmos no nosso melhor como homens e mulheres, na nossa humanidade (naquilo que nos faz humanos), portanto, na recuperação de valores que possam fazer a nossa sociedade, entendida como cidadãos e governo, tão respeitosos com os princípios da administração pública como respeitosos com a vida, a paz e o bem estar do outro. 

Isto implica em construirmos juntos uma Registro desenvolvida, inclusiva, cidadã, harmoniosa mais justa e solidária.

Viva Registro !!!

Concluo com Eduardo Galeano
"Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo."
O mundo (“O livro dos abraços”), de Eduardo Galeano